Qual é a relação entre a Máfia e a Maçonaria?

À medida que se adentra o mundo dos negócios, dos processos ajustados, em alguns circuitos financeiros ou decidir a nomeação de pessoas para cargos importantes, é comum que os dois “M” – Máfia e Maçonaria– se encontrem.

As investigações judiciais nunca conseguiram demonstrar a fundo e entender essa ligação, mas, em muitos casos, revelaram a interação entre a Máfia e a Maçonaria para chegar a um objetivo comum. 

Cosa Nostra, Homens de honra e Maçonaria

Não são poucos os chefes da Cosa Nostra que ingressaram na Maçonaria para expandir seu próprio poder: Stefano Bontate, Michele Greco, Francesco Madonia, Giacomo Vitale, Mariano Agate, entre tantos outros. 

Foi o próprio Stefano Bontate, no início dos anos 70, que elaborou um plano para infiltrar os Homens de Honra na Maçonaria.

Convidou-os a se tornar irmãos nas 113 lojas maçônicas espalhadas na ilha. Naturalmente, o juramento feito à Cosa Nostra – a lealdade absoluta e exclusiva à associação – não poderia ser esquecido. A afiliação na Maçonaria era apenas um meio para conhecer empresários, homens políticos e burocratas.

Stefano Bontate pensava grande:  havia entendido que Cosa Nostra deveria ter encontrado saídas para o seu dinheiro (muito, muito dinheiro: eram os anos do grande tráfico de drogas com os Estados Unidos) e aumentar a sua influência. 

A loja maçônica P2

A Propaganda Dois (mais conhecida como P2) é uma loja maçônica aderente ao Grande Oriente da Itália (GOI). 

Fundada em 1877 sob o nome de A Propaganda Maçônica, tomou formas desviantes em relação aos estatutos da Maçonaria e perturbadoras contra a ordem jurídica italiana, no período de sua gestão pelo empresário Licio Gelli.

P2 foi suspensa pelo GOI em 26 de julho de 1976; em seguida, a Comissão Parlamentar de Investigações concluiu o caso P2, denunciando a loja como uma própria e verdadeira “organização criminosa” e “perturbadora”. Foi dissolvida por uma lei específica, a Nº 17, de 25 de janeiro de 1982. 

A loja foi descoberta durante uma investigação dos promotores de Milão sobre um suposto sequestro de um advogado e de um empresário siciliano Michele Sindona, banqueiro e criminoso italiano, membro da loja P2 com claras associações com Cosa Nostra e com a Família Gambino nos Estados Unidos. 

Michele Sindona foi um banqueiro italiano e criminoso condenado. Conhecido nos círculos bancários como “Tubarão”, Sindona era um membro da loja maçônica P2, dirigida por Licio Gelli, relações claras com a máfia siciliana e a mafiosa “família Gambino” nos EUA.

De acordo com pesquisas, Sindona havia proposto a Stefano Bontate um plano separatista para a Sicília, possível devido à filiação de alguns mafiosos a uma loja maçônica.

Sua habilidade? amarrar em um nó indissociável de negócios quatro pilares da sociedade italiana (e não apenas na época): 

  • Poder político (democrata cristã); 
  • Vaticano; 
  • Maçonaria; 
  • Máfia.  

O império de Sindona vai controlar um número incontável de bancos e empresas financeiras e controlar a metade das ações listadas na Piazza Affari, começa a se instalar em 1974, com o fracasso da Franklin Banco e a acusação de falência feita pelo governo dos Estados Unidos a ele. 

O sequestro de Sindona

No verão de 1979, Michele Sindona foi levado por mafiosos e maçons à Grécia e depois escondido na Sicília, na casa do chefe Rosario Di Maggio, em Torretta. 

A partir daí, foi organizado o falso sequestro, que deveria servir para chegar disfarçados avisos chantagistas, de modo a levar a conclusão bem-sucedida do resgaste de seus bancos e, em seguida, o dinheiro investido por Gambino e outras Famílias da Máfia. 

Para torná-lo mais crível, Sindona foi ferido na perna com o um tiro de pistola. O atirador foi Joseph Miceli Crimi, médico fiel da polícia de Palermo e Maçom inscrito na “Camea” (Gran Loggia Madre), filial siciliana da loja P2. 

Quando Sindona estava escondido na Sicília, o chefe do esquadrão de Palermo era Joseph Impallomeni e o superintendente Giuseppe Nicolicchia: ele foi o primeiro membro da P2 e o segundo na entidade paramaçônica OMPAM (Organização Mundial do Pensamento e da Assistência Maçônica). Em 16 de outubro de 1979, depois do fracasso de várias tentativas de chantagem, Sindona “reaparece” em uma cabine telefônica de Manhattan, em condições físicas de ser devidamente apreendido e entregue às autoridades. 

Mafiosos e Maçons sicilianos

Na cidade de Palermo, mais grupos maçônicos – a Diaz, a Garibaldi, a Lux, e a Concordia, – em 1986, haviam como o chefe Salvatore Greco, conhecido como engenheiro, o “primo do Papa” e o cobrador de impostos da Máfia Nino Salvo. 

E junto com o chefe havia magistrados, como o substituto procurador-geral adjunto Giovanni Nasca e o presidente da seção de falências do tribunal de Palermo, Michele Mezzatesta. 

Magistrados que estavam em pontos estratégicos do Palácio da Justiça de Palermo: a procuradoria geral chega nas investigações de mafiosos após a primeira instância, as divisões de falência chegam aos negócios em Palermo. 

E naquelas lojas tinha também o contador Nino Buttafuoco e o editor do Jornal da Sicília Frederick Ardizzone e Pino Mandalari, contador de Totò Riina, quando o chefe de Corleone tinha começado a sua fuga em 1969. 

As revelações

Revelações dos colaboradores da justiça:

– Tommaso Buscetta

Em 1984, fala pela primeira vez sobre a relação entre a Máfia e a Maçonaria, no contexto de tentativa golpista de Junio Valerio Borghese, em dezembro de 1970. 

A conexão entre Cosa Nostra e os ambientes em que se havia planejado o golpe tinha sido estabelecida por meio do irmão maçônico Carlo Morana, Homem de Honra. 

A contrapartida oferecida à Cosa Nostra consistia na revisão de alguns processos. 

– Leonardo Messina 

Afirma que a cúpula da Cosa Nostra é filiada à Maçonaria: Totò Riina, Michele Greco, Francesco Madonia, Stefano Bontade, Mariano Agate, Angelo Siino (hoje colaborador da justiça também). 

Acredita que cabe à Comissão Provincial de Cosa Nostra decidir a entrada na Maçonaria de certo número de representantes de cada Família. 

– Gaspare Mutolo 

Confirma que alguns Homens de Honra,podem ter sido autorizados a entrar na Maçonaria para “haver caminho aberto a um determinado nível” e obter informações valiosas, mas exclui que a Maçonaria pode ser informada aos assuntos internos da Cosa Nostra. 

Isso resulta no fato de os inscritos na Maçonaria terem sido usados para “ajustar” os processos por meio de contatos com juízes maçônicos. 

As conclusões da Comissão AntiMáfia

As complexidades das declarações dos colaboradores da justiça parecem ser concordantes sobre três partes: 

  • Por volta dos anos 77-79, a Maçonaria pedira ao Conselho de Cosa Nostra permitir a afiliação de representantes das várias Famílias mafiosas; nem todos os membros da comissão acolheram positivamente a oferta; apesar de que alguns deles e outros “Homens de Honra”, de destaque decidiram, por razões de conveniência, optar pela dupla filiação, não obstante a lealdade indiscutível e dependência exclusiva da Cosa Nostra; 
  • Como parte de alguns episódios que marcaram a estratégia da tensão na Itália, ou seja, as tentativas subversivas de 1970 e 1974, exponentes da Maçonaria pediram a cooperação da Máfia; 
  • Dentro da Cosa Nostra tinha se espalhado a crença de que a adesão à Maçonaria poderia ser útil para estabelecer contatos com pessoas pertencentes a muitos ambientes diferentes, que poderiam favorecer os Homens de Honra. 

Máfia: o braço armado da Maçonaria

As Máfias não são nada mais que o braço armado da Maçonaria e dos serviços secretos.

Não se deixe enganar por aqueles que querem falar sobre a Máfia, mas não fazem essas conexões, porque isso significa que está de “má-fé” e o faz para te desinformar. 

Basta pensar que a Máfia nasceu com a unificação da Itália – e tem quem afirme que o fundador da “honrada sociedade” foi o maçom Giuseppe Mazzini. O mesmo rito de filiação à Máfia refere-se a ritos de iniciação dos maçons.

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