Mapas antigos que desafiam a história

Evidências apresentadas por mapas antigos parecem sugerir a existência, em tempos muito remotos, de uma cultura global e mais avançada do que qualquer cultura conhecida até séculos recentes.

Um professor de história da ciência, Charles Hapgood, através de uma rota incomum, chegou a intrigantes sinais de que uma civilização antiga e inteligente precedera o Egito dinástico. Arquivados na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, há centenas de mapas marítimos medievais. Chamados de portulanos, cujo significado é “de porto em porto”, esses mapas são conhecidos pelos acadêmicos há séculos. Contudo, constrita pela convenção de que qualquer mapa dos tempos medievais tem de estar repleto de imprecisões grosseiras, a comunidade acadêmica dedicou pouca atenção ao tesouro em potencial.

Hapgood, formado pela Universidade Harvard, foi o primeiro a conduzir um estudo amplo. Seu interesse teve início em 1956, quando ouviu uma discussão em uma estação de rádio sobre um antigo mapa conhecido como “o mapa de Piri Reis”, cuja uma cópia fora presenteada por um oficial naval turco ao Departamento Hidrográfico da Marinha dos Estados Unidos naquele mesmo ano. O original fora encontrado enrolado em uma prateleira empoeirada no Palácio de Topkapi, em Istambul, no ano de 1929. Pintado em uma pele de gazela, com a data de 1513 inscrita, o mapa mostra uma porção da costa ocidental da África à direita, a costa oriental da América do Sul à esquerda, e o que parece ser a costa setentrional da Antártica embaixo.

Todavia, a Antártica não foi descoberta até 1818, mais de 300 anos depois que Piri Reis desenhou o mapa. O assombro, não obstante, não termina por aí. Indicando que maiores problemas podem afligir nossas atuais convenções históricas, o mapa parece mostrar parte da topografia da Antártica sem gelo.

A calota de gelo antártica contém 90 por cento de todo o gelo na Terra. Cobrindo cerca de 98 por cento do continente antártico, a calota de gelo é a maior do planeta. É considerada também a mais antiga. Os cientistas opinam que a Groenlândia foi congelada 7 milhões de anos atrás e que a Antártica está coberta de gelo provavelmente, ao menos em parte, há 35 milhões de anos.

Mapa de Piri Reis.

Atualmente, há um debate acadêmico quanto a se algum aquecimento afetou a calota de gelo antártica durante sua existência teorizada de 35 milhões de anos. Um grupo de cientistas conduzido por Peter Webb, da Universidade do Estado de Ohio, diz ter descoberto evidências de um derretimento glacial há 3 milhões de anos. Outros cientistas, como George Denton e David Merchant, dizem que não.

A situação difícil é que, por um lado, temos o mapa de Piri Reis, que, aparentemente, retrata a Terra da Rainha Maud, no Polo Sul, com baías sem gelo. Se, com efeito, o mapa retrata a Antártica, temos que ir para o outro lado. Temos que lidar com a opinião científica contemporânea de que não se deparou com evidências para uma Antártica sem gelo antes de pelo menos a data controversa de 3 milhões de anos atrás. Finalmente, temos a questão mais importante: que civilização, perdida no tempo, foi capaz de mapear a costa antártica? Ademais, como e quando seu povo poderia ter visto a Antártica sem gelo?

O mapa de Piri Reis certamente tem seus problemas. Alguns de seus detalhes parecem mais renascentistas do que medievais. Além disso, historiadores sabem que, no tempo em que Reis fez o mapa, marinheiros europeus trocavam rumores de que um corpo de terra existia acima da América do Sul. Por exemplo, Américo Vespúcio, soprado para muito fora de sua rota, avistou a terra. Podem ter sido as Ilhas Malvinas ou talvez até mesmo a Antártica, como alguns acadêmicos teorizam. Finalmente, o próprio Hapgood reconheceu o problema de que o mapa demonstra a América do Sul e a Antártica como uma costa contínua, como se os dois continentes fossem unidos em vez de separados por 960 quilômetros de oceano. Alguns dizem que talvez o que vemos como a Antártica seja, na verdade, o que Reis intencionou ser a Patagônia – a porção inferior do litoral argentino.

Robert Schoch, o geólogo de Yale que desencadeou a batalha da Grande Esfinge, recusou-se a aceitar o mapa de Reis. Ele, no entanto, admite abertamente o desafio trazido pelo mapa. “Continuo a considerar as ideias de Hapgood fascinantes e torturantes, mas a evidência é menos do que conclusiva. O mapa de Piri Reis não contém nenhuma informação de origem indisputavelmente antiga, e a suposta costa da Antártica poderia muito bem ser a parte inferior da América do Sul”.[1] Aqueles que veem a Antártica no mapa de Reis têm, sim, grandes apoiadores, renomados por sua perícia técnica e interesse por todo metro quadrado do planeta. Em uma carta a Charles Hapgood, a Força Aérea estadunidense confirmou a análise do acadêmico e suas consequências:

8 Reconnaissance Technical Squadron (SAC)
Força Aérea dos Estados Unidos
Base da Força Aérea de Westover

Massachusetts
6 de julho de 1960

Assunto: Mapa Mundial do Almirante Piri Reis
Para: Professor Charles H. Hapgood

Keene College
Keene, New Hampshire

Prezado professor Hapgood,

Seu pedido de avaliação de certos aspectos incomuns do Mapa Mundial de Piri Reis de 1513 por parte desta organização foi considerado.

A alegação de que a parte inferior do mapa retrata a Costa da Princesa Marta, da Terra da Rainha Maud, Antártica, bem como a Península de Palmer, é aceitável. Consideramos que essa é a interpretação mais lógica do mapa e, muitíssimo possivelmente, a interpretação correta.

O detalhe geográfico exibido na parte inferior do mapa está de acordo muito notavelmente com os resultados do perfil sísmico feito ao longo do topo da calota de gelo pela Expedição Antártica sueco-britânica de 1949.

Isso indica que a costa foi mapeada antes de ser coberta pela calota de gelo.

A calota de gelo nessa região é, atualmente, de cerca de 1,5 quilômetros de espessura.

Não fazemos ideia de como a data nesse mapa pode ser conciliada com o suposto conhecimento geográfico em 1513.

Harold Z. Ohlmeyer
Tenente-coronel, Força Aérea dos Estados Unidos,
Comandante [2]

O examinador perito da Força Aérea certamente sabia que a cartografia é uma atividade complexa que exige um sofisticado nível de civilização. Oficiais de alta patente da Força Aérea dos Estados Unidos dedicaram anos de rigorosos estudos, comparáveis ao que apenas as melhores universidades civis poderiam oferecer. A Academia, caso escolha reconhecer o desafio, teria de encontrar um povo antigo direta ou indiretamente responsável pelo mapa em um tempo em que os historiadores não conhecem nenhum desenvolvimento civilizatório. Tipicamente, buscaríamos pela cauda dessa civilização avançada – seus últimos dias. Então, de acordo com a nossa concepção linear ocidental, teríamos que voltar no tempo pelo menos mais alguns milhares de anos para permitir que semelhante civilização obtivesse o nível necessário de geodesia e cartografia.

Piri Reis é uma personalidade histórica documentada. Um almirante na esquadra dos turcos otomanos, ele, em meio às suas batalhas navais, escreveu um texto de navegação famoso em seus dias. O manual descrevia as complexidades navegacionais do Mar Egeu e do Mar Mediterrâneo. Em notas sobre o mapa antártico, hoje famoso, Reis escreveu que não fez nenhuma das expedições para a carta marítima, senão que produziu o mapa a partir de uma coleção de fontes anteriores, algumas até mesmo do século IV a.C. Ele não mencionou nada sobre a identidade dos antigos cartógrafos.

Reis foi decapitado em 1554 ou 1555 por seus superiores. Professor Hapgood parece ter sido um pequeno resultado nos esforços de Reis, os quais lhe custaram um destino desventurado. Nenhum enaltecimento acadêmico chegou a ele – nenhum reconhecimento por uma contribuição grandiosa, bem pesquisada e original ao estudo da antiguidade. Pior ainda, até sua morte, a maior parte de seus colegas de pesquisa o evitou e ridicularizou seu trabalho. O programa exibido em todo o território norte-americano Misteriosas Origens do Homem, bem como muitos livros não especializados, estabeleceram postumamente sua reputação, citando-o por sua possível revolução nas convenções da história do mundo.

A seção subglacial da Terra da Rainha Maud, Antártica, permaneceu oculta sob o gelo até 1949, quando uma equipe de reconhecimento composta por britânicos e suecos conduziu uma inspeção sísmica. Como Hapgood descobriu em sua pesquisa na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, o mapa de Piri Reis não foi o único portulano a indicar conhecimento antigo de uma Antártica sem gelo. O professor encontrou o Mapa de Oronce Finé, de 1531, o qual, além da Terra da Rainha Maud, mostrava detalhes incríveis de montanhas, estuários, baías e rios em muitas outras regiões. Esses detalhes são tão harmônicos com as análises científicas contemporâneas do que se encontra sob o gelo que Hapgood teve que concluir que os homens antigos visitaram a Antártica e talvez tenham vivido lá antes das geleiras tomarem completamente aquelas terras.

Como o mapa de Reis, o mapa de Oronce Finé tem seus problemas. Nele, falta a península de Palmer, que se expande do continente antártico em direção à América do Sul por quase 800 quilômetros. Além disso, muito do que o mapa mostra como terra sólida, como a Terra de Wilkes e a plataforma de gelo Amery, estaria, teoricamente, debaixo d’água na ausência das geleiras. Robert Schoch, sendo cauteloso, conclui: “O Mapa de Oronce Finé pode ser uma representação que é parcialmente precisa, parcialmente produzida a partir de rumores. Isso levanta uma pergunta torturante sobre explorações do continente no extremo sul que se perderam da história”. Richard Strachan, do prestigioso Massachusetts Institute of Technology, foi além. Ele confirmou a forte correspondência do Mapa de Oronce Finé com as mais recentes pesquisas na calota de gelo.

Mapa de Oronce Finé

O mais famoso cartógrafo do século XVI é renomado pela projeção de Mercator, utilizada ainda hoje na maioria dos mapas do mundo. Gerard Kramer, conhecido como Mercator, incluiu em 1569 o Mapa de Oronce Finé em seu Atlas, e também apresentou a Antártica em muitos de seus próprios mapas com detalhes ainda mais distintamente reconhecíveis.

Então, no século XVIII, ainda muito antes da descoberta oficial do continente gelado, o geógrafo francês Phillippe Buache, aparentemente, superou todos os mapas supramencionados apresentando sua cartografia de toda uma Antártica sem gelo. A ciência moderna não tinha uma topografia subglacial inteira até 1958, quando um estudo sísmico completo da Antártica foi feito. A avaliação moderna parece confirmar, de maneira geral, o que Buache fez em 1737. Quais são as fontes primárias dos mapas de Finaeus, Mercator e Buache? Que povo na antiguidade remota poderia ter possuído originalmente todo esse conhecimento?

Como os outros mapas, o mapa de Buache tem seus apoiadores e detratores. Buache contribuiu com mais surpresas para o enigma. Seu mapa revela um desafio extremo: um curso de água navegável, livre de gelo, ao longo do continente antártico, dividindo-o, assim, em dois principais territórios. Embora mapas modernos mostrem a Antártica como um só corpo de terra, os estudos sísmicos de 1958 demonstram que se trata de um arquipélago oculto de grandes ilhas, com gelo da espessura de 1,5 quilômetro entre elas.

Devemos notar que geólogos ortodoxos dizem que a data mais tardia quando esses canais estavam abertos é milhões de anos atrás. Contudo, que humanos estavam no planeta milhões de anos atrás para presenciar e mapear a Antártica com sua terra completamente livre de geleiras e com seus canais completamente desobstruídos de gelo? Quem retransmitiu esse conhecimento? Se o mapa de Buache, como os demais, está correto, ao menos parcialmente, então, sem dúvidas, tem que existir outra explicação.

Mapa de Buache

Hapgood rastreou e analisou mais mapas, sugerindo outras partes do mundo, como América do Sul e norte da Europa. O leitor pode consultar o Maps of the Ancient Sea Kings, de Hapgood, para a apresentação completa. Seu capítulo final, intitulado “Uma Civilização que Desapareceu”, direciona os leitores de mente aberta para algo revolucionário:

A evidência apresentada pelos mapas antigos parece sugerir a existência, em tempos remotos, antes do surgimento de quaisquer culturas conhecidas, de uma civilização verdadeira e de um tipo avançado, que ou foi localizada em uma área porém teve um comércio global, ou foi, em um sentido real, uma cultura global. Essa cultura, ao menos em alguns aspectos, foi mais avançada do que as civilizações da Grécia e da Roma. Em geodesia, ciência náutica e cartografia, foi mais avançada do que qualquer cultura conhecida antes do século XVIII da era cristã.

Enquanto o público, com um pouco de ajuda do que a Academia estabeleceu, tenta encontrar seu caminho em meio a todas essas informações espantosas que viram de ponta-cabeça a história estabelecida das origens humanas e da civilização, os textos védicos, que sempre falaram de uma humanidade superior à atual no passado, estiveram aguardando por seu lugar ao Sol.


[1] Schoch, p. 103. Em seu livro, Schoch apresenta uma visão geral de possíveis objeções técnicas aos portolanos. Mantos de gelo não se desprendem da terra como se separa um vidro de uma fotografia. Se os estimados 30 milhões de bilhões de toneladas de gelo cobrindo a Antártica houvessem derretido, a terra teria iniciado um processo que os geólogos chamam de “ajuste isostático”. Além disso, se a calota de gelo houvesse derretido, o nível do mar teria se elevado drasticamente. Teoricamente, um nível de mar em elevação combinado com ajuste isostático produziria um continente diferente de sua versão atual, com o gelo claramente subtraído.

[2] Carta reproduzida em Charles H. Hapgood FRGS, Maps of the Ancient Sea Kings (Filadélfia e Nova Iorque: Chilton Books, 1966), p. 243.

Fonte: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/mapas-para-uma-inteligencia-desconhecida

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